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10.º Encontro do CIED|Cidadanias: caminhos, processos e desafios no séc.XXI e a ESELx associam-se ao Politécnico de Lisboa nas comemorações do centenário de Arquimedes da Silva Santos (1921-2019), poeta, médico e psicopedagogo, considerado pioneiro do neorrealismo português e precursor da Educação pela Arte em Portugal.

A exposição "Arquimedes da Silva Santos: onde vai minha voz” tem nesta página a sua versão digital e vai estar patente na ESELx com um conjunto de painéis temáticos que mostram aspetos significativos da vida e da obra desta personalidade, entre 5 e 12 de novembro de 2021.

Video file
 

Vídeo produzido pelo Museu do Neo-Realismo


"Arquimedes da Silva Santos foi professor coordenador na Escola Superior de Dança, onde se manteve até à reforma em 1991, tendo exercido outros cargos e sido responsável pela criação do ramo de Educação destinado à formação de professores de Dança. 

Com curadoria de Luísa Duarte Santos (filha do homenageado), Miguel Falcão (docente da Escola Superior de Educação de Lisboa) e Vanda Nascimento (professora da Escola Superior de Dança), e design de Cátia Rijo (docente da ESELX), a exposição foi concebida e  preparada para ser itinerante em diferentes instituições e contextos do país de algum modo ligados ao percurso do homenageado."

 

 

Catálogo Virtual



Nota biográfica

Arquimedes da Silva Santos (1921 – 2019) nasceu e viveu grande parte da sua vida na Póvoa de Santa Iria, no concelho de Vila Franca de Xira.

Desde cedo, interessou-se por literatura, música, teatro e outras formas de arte, envolveu-se em atividades culturais e associativas locais – em espetáculos de teatro, recitais de poesia e palestras – e manifestou um profundo sentido cívico, evidenciado no espírito crítico e no ímpeto interventivo.

A dimensão pública do seu percurso de poeta começou nas páginas de periódicos de matriz democrática em tempos de ditadura, como, de abrangência nacional, o jornal O Diabo (desde 1938), as revistas Sol Nascente (desde 1939) e Seara Nova (desde 1944) e, de cariz regional, o vila-franquense Mensageiro do Ribatejo (desde 1939), entre outros. Publicou mais tarde vários livros de poesia: Voz velada: poemas (1958), Cantos cativos (1967, 1986 e 2003), Poemetos locais (2016) e Plinto (2017).

Entre Vila Franca e Coimbra, para onde foi estudar em 1942, participou no Neo-realismo português desde a sua génese. Integrou os grupos daquelas duas localidades e foi um dos responsáveis pela refundação da revista Vértice enquanto principal órgão de divulgação daquele movimento. Destas experiências deu testemunho em textos dispersos, proferidos em comunicações ou publicados em periódicos, alguns dos quais também reunidos no livro Testemunho de neo-realismos (2001).

Empenhou-se na atividade política de oposição ao regime salazarista, com responsabilidades dirigentes no Comité Regional do Baixo-Ribatejo da Federação das Juventudes Comunistas Portuguesas (1941-1942) e no Setor Intelectual de Coimbra do Partido Comunista Português (1942-1949), assim como no Movimento de Unidade Democrática (desde 1945), cujo hino – “Companheiros, Unidos!” – tem letra da sua autoria e música de Fernando Lopes-Graça, e no Movimento de Unidade Democrática Juvenil (desde 1946).

Na conjugação de missões políticas e gosto pessoal, integrou dois grupos de teatro, o Teatro dos Estudantes da Universidade de Coimbra (1942-1945) e o Grupo Cénico do Ateneu de Coimbra (1945-1949), nos quais procurou esbater a dicotomia “elite”/“povo” e levar à cena um reportório de feição social, na tradição do “teatro popular” de Romain Rolland ou Federico García Lorca. Julgado pela sua participação em atividades de oposição ao regime ditatorial, foi sujeito a prisão política durante dezoito meses, cumpridos em dois períodos (de julho de 1949 a julho de 1950 e de junho a dezembro de 1952).

Formou-se em Medicina (1951) e concluiu o Curso de Ciências Pedagógicas (1959) na Universidade de Coimbra e enveredou por especializações nas áreas da pediatria e da psiquiatria. Foi um dos primeiros especialistas a integrar o quadro de Neuropsiquiatria Infantil da Ordem dos Médicos (1960). Alguns dos seus estudos e ensaios na área da medicina e das terapias foram publicados em livro: Dificuldades escolares e «epileptoidia» (ensaio de convergência clínico-electroencefalográfica e confronto de conceitos) (1977) e Da família à Escola: perspectivas médico-psicopedagógicas (2002). Durante cerca de cinquenta anos, exerceu medicina, sobretudo no seu próprio consultório e ao domicílio, mas, por razões políticas que o impediram de integrar a função pública durante o Estado Novo, nunca chegou a cumprir o objetivo de ser médico de saúde escolar nas instituições do estado.

A formação e a experiência na área da pedagogia e da pedopsiquiatria, o interesse pela reeducação expressiva e a sua sensibilidade para as artes conduziram-no a um lugar pioneiro no “movimento de educação pela arte” em Portugal. Defendia uma metodologia educacional eclética, especialmente focada na infância mas dirigida a todos, centrada nas capacidades de autodesenvolvimento global e assente em pilares como a criatividade, o ludismo, a livre expressão e a espontaneidade. Neste percurso, criou a disciplina “Psicopedagogia das Expressões Artísticas”, uma área interdisciplinar na interseção de domínios como a pedagogia, a psicologia, as artes e a estética, cujos fundamentos fixou no livro Perspectivas Psicopedagógicas (1977).

Afirmou-se com notoriedade em diferentes funções, na equipa do Centro de Investigação Pedagógica da Fundação Calouste Gulbenkian (1965-1974), na criação e como professor e membro dos órgãos diretivos da Escola Piloto – depois Escola Superior – de Educação pela Arte (1971-1983) e como docente da Escola Superior de Dança do Instituto Politécnico de Lisboa, até à aposentação como Professor-Coordenador (1984-1991), mantendo-se ainda como Presidente do Conselho Artístico-Científico (até 1999). O seu pensamento e as suas propostas sobre os cruzamentos entre “educação” e “arte” estão desenvolvidos em Mediações Artístico-Pedagógicas (1989), Estudos de Psicopedagogia e Arte (1999) e Mediações Arteducacionais: Ensaios coligidos (2008).

Colaborou na criação de várias associações ligadas à complementaridade artes/educação e às terapias expressivas, como, entre outras, o Movimento Português de Intervenção Artística e Educação pela Arte, a Associação Portuguesa de Educação Musical ou a Associação Portuguesa de Musicoterapia.

No concelho de Vila Franca de Xira, teve uma participação ativa na constituição da Comissão Instaladora do Museu (1988) e da Associação Promotora do Museu do Neo-Realismo (1989) e na criação do próprio Museu do Neo-Realismo (1993), no qual, por ocasião da inauguração do novo edifício (2007), lhe foi dedicada a exposição temporária “Arquimedes da Silva Santos: Sonhando para os outros”.

A par de inúmeras homenagens, na maioria prestadas por associações e grupos aos quais esteve ligado, o seu percurso – sobretudo como cidadão e como precursor da educação pela arte – foi também reconhecido por diferentes instituições. A Universidade de Lisboa outorgou-lhe o grau de Doutor Honoris Causa (2018). A Câmara Municipal de Vila Franca de Xira reconheceu a sua dedicação à terra onde nasceu, através da atribuição do seu nome a uma praça (1994) e da implantação de uma estátua do Mestre Francisco Simões num jardim público (2009), e condecorou-o com a Medalha de Honra (2019). O Presidente da República agraciou-o com duas condecorações: a Comenda da Ordem do Infante Dom Henrique (1998) e a Grã-Cruz da Ordem da Instrução Pública (2001).

Em 2021, o Instituto Politécnico de Lisboa (IPL) associou-se às comemorações do centésimo aniversário do nascimento de Arquimedes da Silva Santos, que tiveram início no Museu do Neo-Realismo com o lançamento do livro Arquimedes da Silva Santos: Um homem (fora) do seu tempo, da autoria de Miguel Falcão e Isabel Aleixo (ed. Modo de Ler). Para além da produção da exposição biográfica itinerante que, durante um ano, se encontra a percorrer vários espaços institucionais, académicos e culturais do país, o IPL atribuiu-lhe a título póstumo a Medalha de Prata de Emérito e de Mérito por Serviços Prestados ao IPL, de Primeira Classe.