Preocupados com as faltas de oportunidade e espaços para o movimento das crianças durante o tempo de confinamento que vivemos, um grupo de investigadores da Faculdade de Motricidade Humana (UL), da Escola Superior de Educação de Lisboa (IPL), e da Escola Superior de Desporto e Lazer (IPVC) leva a cabo o primeiro estudo a analisar as rotinas das famílias portuguesas durante o confinamento do Covid-19.
Desde que fecharam as escolas em Portugal, crianças de todo o país ficaram confinadas “à força” em suas casas por um período indeterminado. Essa situação afetou as rotinas diárias da família e dos filhos afetando a atividade física das crianças, levando a taxas de sedentarismo na ordem dos 80%.
Dos dados recolhidos no inquérito online respondido até agora por 1973 famílias e 2167 crianças, conseguimos apurar que durante este confinamento a maior parte dos pais considera que houve:
- Um decréscimo no tempo de atividade física dos seus filhos (69.4%);
- Um aumento do tempo dedicado aos ecrãs (68.4%) e um aumento nas atividades em família (82.8%).
Considerando a percentagem de tempo acordado reportado para cada criança (excluindo as horas de sono):
- O tempo de ecrã lúdico (não contando aulas e trabalhos online) aumenta ao longo das faixas etárias, atingindo valores de 24% na faixa etária dos 0-2 anos, 27% dos 3 aos 9 anos e 33% na faixa dos 10 aos 12 anos;
- O tempo de sedentarismo total é de 74% e aumenta com a idade, sendo de 62% na faixa etária dos 0-2 anos; 72% dos 3 aos 5; 78% dos 6 aos 9 anos e 84% na faixa etária dos 10 aos 12 anos;
- Não foram verificas diferenças acentuadas entre sexos, tendo rapazes e raparigas valores muito semelhantes em praticamente todas as atividades à exceção das categorias de ecrã lúdico (rapazes > raparigas) e jogo sem movimento (raparigas > raparigas)
Os dados confirmam a tendência geral decrescente do tempo de atividade física ao longo da infância, mas as crianças que vivem em condições de confinamento obrigatório apresentam um grande tempo de sedentarismo, especialmente derivado da grande percentagem de tempo de jogo sem movimento (até aos cinco anos de idade) e do aumento do tempo de ecrã lúdico após essa idade.
Este inquérito vai estar a decorrer por todo o tempo de confinamento e está já a ser replicado em vários países (Grécia, Espanha, Reino Unido, Bélgica, EUA, Austrália, Nova Zelândia).